Sunday, December 05, 2010

Monte Mor de Antanho - Causos - 19

HILÁRIO ZEBU

Era uma pobre pessoa que caminhava pelas ruas da cidade, e seu aspecto metia medo, principalmente às crianças. Andava arcado, segurando um cobertor e uma bengala. Diziam que um dia montou em sua mãe, como se monta em um cavalo e usando esporas. A pobre mãe então lhe rogou uma praga dizendo que ele só morreria quando estivesse andando com o nariz no chão. Por isso caminhava lentamente, numa posição em que seu tronco formava com suas pernas uma curva de noventa graus. Vez ou outra, parava gritando: “eu tô fedendo”.

Perguntava-se a ele:

- Hilário, o que você tem no pé?

E ele respondia:

- Dedo.

- E o que você tem no dedo?

- Unha.

- O que você tem na unha?

- Bicho.

Certo dia, conta-se que Hilário ia por uma estrada quando três jovens irmãos, que lidavam a terra, ao vê-lo, resolveram se divertir dizendo:

- Hilário, conta uma mentira.

- Agora não dá, estou indo para o sítio dos Elias.

- O que vai fazer lá?

- Vou avisar que morreu a Nha Chica da Serra.

- Pois então nem precisa ir, já avisou, somos da família.

Os irmãos deixaram o serviço e foram para casa avisar o resto dos parentes. Arrearam as mulas e pegaram a estrada de Elias Fausto onde morava a velha Chica. Lá chegando encontraram a senhora muito bem de saúde. De volta foram tirar satisfações com o Hilário que simplesmente lhes disse:

- Vocês não me pediram para contar uma mentira? Contei.

Outro dia, agarrado a um poste, gritava :

- Sai ou não sai? Sai ou não sai?

Atraídos pelos gritos, várias pessoas, curiosas, aproximavam-se buscando uma explicação para a cena.

Depois de algum tempo, quando o número de curiosos já era bem razoável, Hilário simplesmente, para delírio de todos, solta um estrondeante pum e diz:

- Saiu.

Formatura - Sproesser - 12/12/2007

Formatura da EE Antonio Sproesser – dez. 2007

Boa noite a todos.

Recentemente apareceu no quintal de minha casa um casal de rolinhas. Traziam gravetos e construíram um ninho bem na calha de uma lâmpada fluorescente da varanda. Ali a rolinha botou dois ovos, um saiu fora do ninho e se perdeu, o outro, carinhosamente foi chocado pelo pássaro. Sempre que a rolinha se afastava eu dava um jeitinho para observar o ninho. Depois de alguns dias o filhote nasceu. Os dias se passavam e o novo passarinho ia crescendo até que se tornou todo emplumado. Um dia, as asas já crescidas, ele voou livremente e foi construir sua própria vida.

A nossa vida é mais ou menos assim, chega um dia em que temos que voar com aspróprias asas e sair em busca da felicidade.

Aqui nós temos duas turmas de formandos, uma da 8ª série do ensino fundamental e outra da 3ª série do ensino médio. Para os formandos da 8ª série ainda não chegou a hora de voar, as asas ainda não estão emplumadas. No próximo ano com certeza estarão conosco para iniciar a outra fase, o ensino médio, quando estarão receberão as indicações dos caminhos que poderão seguir de acordo com as próprias opções. A escola não oferece fórmulas prontas a seguir, mas indica caminhos que possam ser trilhados, que com certeza levam à um só lugar, à felicidade.

Vou lhes contar uma historinha: “Em um lugar distante, vivia um sábio famoso pelo conhecimento e pelos conselhos que dava. Um dia, uma menina muito esperta resolveu que poderia enfrentar e vencer o sábio. Disse aos seus amigos: ‘Vou colocar uma pequena borboleta em minha mão e perguntar ao sábio se ela está viva ou morta. Se ele disser, está viva, eu a esmagarei com a mão. Se ele disser está morta eu abrirei a mão e ela voará livremente. E o sábio errará.’ Assim fez, tomou a borboleta na mão e foi em busca do sábio. Ao encontrá-lo, perguntou : ‘Sábio, a borboleta aqui na minha mão está viva ou está morta?’. O sábio olhou ternamente para menina e com toda a sua sabedoria disse: ‘ A resposta está em sua mão’”.

Pois é, meus queridos formandos do ensino médio, agora o caminho a seguir está em suas mãos. A escola procurou indicar esses caminhos, agora cabe a cada um escolher o melhor deles e seguir em frente.

Os conselhos que vou dar agora se fundamentam apenas na minha experiência e nas minhas observações.. Vamos a eles.

É importante sonhar e sonhar grande, traçar uma meta e seguir em frente. Os obstáculos serão maiores ou menores, mas reais. Porém, não se preocupem com eles, preocupar-se com eles é o mesmo que tentar resolver uma questão de física nuclear usando a fórmula de chupar pirulito.

Aproveitem ao máximo essa linda fase da vida, a juventude, e tenham certeza que daqui a trinta anos vocês vão pensar nas oportunidades perdidas, mas já será tarde. Por isso não as deixem escapar. Uma coisa é certa, vão olhar suas fotos de hoje e dizer: “eu era bem bonitão”, ou “eu não era tão gorda como pensava”. Ainda vão dizer a seus filhos: “no meu tempo era tudo diferente, eu não colava na escola, obedecia meus professores e passava várias horas por dia estudando muito”. Será?

É importante cuidar da saúde, praticar esporte, fazer exercícios físicos, ou daqui uns tempos não conseguirão amarrar os próprios sapatos.

Vocês podem se casar ou não. Mas sejam ousados, ou dirão mais tarde: “se eu não fosse um ‘babaca’, teria me casado com aquele tesouro, agora vejam só a mala que arrumei!” Mas é mentira quando dizem que as sogras são más. Tenham certeza que existem algumas boas.

Não fumem.

Amem loucamente seus pais. Todos os dias abracem-nos e digam aos seus ouvidos : “Eu te amo meu pai, eu te amo minha mãe”. Digam antes que seja tarde. A importância dos pais vocês só vão saber realmente quando não os tiver mais.

Evitem bebida alcoólica.

Sorriam, sorriam muito, o sorriso melhora a beleza, enobrece a alma e traz simpatia. Tratem todas as pessoas com carinho com palavras de elogio que engrandecem e elevam o ego. O elogio faz bem para quem ouve e para quem diz. Nunca usem palavras que possam magoar ou depreciar as pessoas.

Sejam honestos.

Sejam solidários, ajudem os mais necessitados. Lembrem-se que a cada segundo morrem três pessoas de fome no mundo e vocês podem diminuir esse número. Afinal somos todos companheiros da mesma viagem.

Respeitem a namorada ou o namorado.

Não se esqueçam da natureza, a sua preservação depende de nossas ações e nossa vida depende dela. Tratem a natureza com um profundo amor, como se trata a pessoa mais querida. Lutem por ela, defendam-na como se defende a própria mãe.

Pois é, meus tesouros, eu poderia ficar aqui falando muito mais, mas como dizem que discurso de formatura é a coisa mais maçante que existe, acho bom parar.

Antes, porém, precisamos lembrar das pessoas que fazem a escola funcionar. Olha que time: Rosa, Zenaide, Darci, Sueli, Cleide, Francisca, Cristina, Valéria, Giane, Solange, Neuza, Tatiana, Édna, nenhum homem, todas mulheres, e maravilhosas, que cuidam da cozinha, da limpeza, da cantina, da organização dos alunos, da secretaria, da biblioteca. São nossas deusas, sem elas estaríamos perdidos.

Os professores e as professoras, são tantos que não poderia falar o nome de todos agora. Elas, amo de paixão, eles são amigos de coração. Todos capacitados, comprometidos com o trabalho e prontos a colaborar. Todo ano, uns chegam outros se vão, pena. Alguns, pouco vejo, mas só em saber que eles existem me faz imensamente feliz.

Os coordenadores, professor João, amigo do período diurno e a Sônia, que além de coordenadora sabe fazer uma torta tão maravilhosa! Vocês nem imaginam.

A vice-diretora é a Isabel, carinhosa com os alunos, sempre simpática com os professores. Nosso diretor, é o Parra, muito correto, e diante das circunstâncias ora é durão ora é dócil em relação aos alunos.

A todos da família Sproesser ofereço, simbolicamente, uma rosa vermelha como sinal da minha paixão, a todos os alunos ofereço meu amor embrulhado com as cores do arco-íris e enfeitado com o brilho das estrelas, aos pais e a todos os presentes ofereço meu carinho irisado com as cores do Natal.

Um grande abraço a todos, e que este Natal e os dias do próximo ano sejam marcados por muitas maravilhosas e deliciosas surpresas.

Obrigado.

Prof. Nelsinho.

12/12/2007

Monte Mor de Antanho - Causos 18

Caridade

Batista nunca foi de fazer caridade. Tinha uma cara de poucos amigos, não enjeitava uma briga e usava uma corrente para se safar delas. Era, porém, pessoa de posse, comerciante respeitado, honesto, bom pai de família e segundo diziam, gostava de um carteado. Afinal todo mundo tem defeitos e entre os de Batista esse era o mais “cabeludo”*.

Falava pouco, estava quase sempre só, não freqüentava rodas de amigos, mas dia sim dia não, visitava a barbearia do Juca, na praça central da cidade, para fazer a barba, aparar o bigode e de quebra cortar os fios dos pelos que teimavam em sair do nariz e outros que afloravam dos buracos dos ouvidos. Os cabelos, cortava a cada vinte dias, sempre segundo o estilo militar. Costumava andar bem vestido, sempre de terno de linho no verão e casimira no inverno. Na cabeça um chapéu de feltro, cor cinza claro, e nos pés sapatos marrons, bicos finos, de cromo alemão da marca Scatamáquia, a mais desejada da época, e muito bem lustrados.

Numa dessas visitas ao Juca, a barbearia ficou lotada depois que Batista sentou-se na quarta e última cadeira vazia. Cumprimentou os presentes, acomodou-se e permaneceu taciturno*. Vez ou outra, porém, respondia a uma pergunta para em seguida abraçar o silêncio.

Isso foi até o momento em que, contrariando radicalmente seu comportamento habitual, disparou a contar uma história:

- Hoje o dia foi meio complicado.

Silêncio.

- Vocês sabem, sou viúvo, moro sozinho e a solidão às vezes me deixa meio aturdido, meio abichornado*. Não tenho dormido muito bem, acordo de madrugada, levanto, dou uma mijada no meu urinol* de porcelana importada e filetada a ouro – urinol pra mim tem que coisa boa, nunca vou mijar numa porcaria de ágate* - deito de novo, mas quase sempre perco o sono. Essa madrugada acordei quatro e meia e não dormi mais. Levantei, fiz café, tomei um gole, quando chegou o Mário padeiro. Comi duas fatias do pão com mais um xícara de café e liguei o rádio para ouvir o programa do César de Alencar. Estava tocando uma música com a Emilinha Borba. Aquilo que é mulher, não essas coisas que a gente vê por aqui. Arrasto um trem por uma gostosura daquela.

Nicola interrompeu dizendo:

- Uma cantora daquela não é pra nosso bico Batista! Ela deve ter tantos homens quanto quiser e todos cheios da bufunfa*!

- Sei disso, mas que sinto tesão por ela não posso negar, o que fazer? Ainda mais que estou viúvo e carente!

Feita a observação Batista continua.

- Pois é, como dizia, estava ouvindo o programa do César de Alencar quando bateram à minha porta. Ao abrir, deparei com uma linda ragazza*, com uns farrapos cobrindo aquele corpinho, tipo Emilinha, que não devia ter mais que trinta e cinco anos, e que foi logo dizendo:

- Bom dia senhor. Será que o cavalheiro poderia me ajudar? Estou passando por um triste momento.

- O que lhe aconteceu? – Perguntei.

- Se o senhor permitir passo a contar minha triste história.

- Pode contar, sou todo ouvido.

- Já fui muito rica. Meu pai me deixou grande fortuna, uma fazenda de dois mil alqueires no sul de Goiás. Tinha mais de mil cabeças de gado, grande plantação de milho e feijão e uma linda e confortável casa. Vivia muito bem e feliz, rodeada por muitos empregados que cuidavam das tarefas da fazenda. Lá tínhamos até uma escola para os filhos dos colonos.

- E depois?

- Pois é, certo dia conheci um rapaz da cidade, muito bonito, muito bem vestido e perfumado e que se dizia advogado. Depois de uma breve conversa marcamos um encontro para a semana seguinte. Desse segundo encontro nasceu um namoro que acabou em casamento. O primeiro ano foi maravilhoso, mas depois começaram os problemas que me levaram a essa situação em que me encontro agora. Na verdade meu marido era um espertalhão, mulherengo, jogador e viciado em uma cachaça. Em pouco tempo, antes mesmo que eu tomasse conhecimento o desgraçado me deu um golpe, vendeu tudo o que tínhamos e deu no pé. Hoje não tenho nem o que comer, vivo da caridade das pessoas de sensibilidade. Nem uma casa decente para morar, vivo me escondendo em qualquer buraco que encontro pelo caminho.

- Não deixei que ela continuasse sua história. Fiquei tão emocionado e com um nó na garganta. Eu, homem que nunca chorou, confesso, quase o fiz. Sem mais delongas convidei-a para entrar.

- O senhor vai me ajudar?

- Evidentemente. Isso não pode ficar assim, onde já se viu uma moça como você vivendo dessa maneira, com essa carência toda?

Nessa altura, todos os presentes, emudecidos e assustados com essa atitude incomum de Batista, nem notaram a presença do Nestor parado na porta, coçando o saco sem entender o que estava acontecendo e observando a cena: Monteiro, boca aberta, Luizão piscando sem parar, alimentando seu tique nervoso, Romão, com uma das mãos segurando o chapéu, com a outra coçando atrás da orelha esquerda e o Nicola roendo as unhas, o que lhe era costumeiro. Juca parado com a navalha na mão e o Noca, o cliente da vez, acomodado na cadeira do barbeiro mostrava pelo espelho uma meia cara ensaboada e outra raspada.

Diante desse cenário, Batista concluiu seu relato.

- Pois é, levei a moça pra dentro da casa, dei um banho, umas roupas da finada, um café reforçado e de quebra passei o ferro nela.

Monte Mor de Antanho - Causos -17

A missa.

Genor e Beínha eram irmãos. Solteiros, nunca se separaram, mesmo depois da morte dos pais. Quando estavam bem velhos foram internados no asilo local. Pobres, simples, analfabetos, os dois eram muito conhecidos na cidade.

A casinha branca pelo cal que cobria as paredes de taipa de mão, rebocadas com estrume de gado, agarrado ao emaranhado de bambus e cipós, telhado sustentado por caibros e vigas de pau roliço de madeiras de pouca valia, telhas feitas nas coxas, uma das paredes escoradas por um galho de goiabeira, era o palácio construído pelos pais de Genor e Beínha. Ali morava a felicidade de quem não conhecia os desmandos da idiotice humana.

Nunca conheci o interior daquela casa, mas com o perdão de Deus, pelo julgamento que agora faço, baratas e outros seres não muito simpáticos, deviam conviver com eles. Essa minha conclusão tem seu fundamento no caso que agora exponho:

Genor era católico e costumeiramente freqüentava a igreja. Como naquela época nenhum fiel adentrava um templo, durante as cerimônias religiosas, sem portar um terno, mesmo nos dias mais quentes do ano, ainda que fosse confeccionado com o pesado tecido conhecido por casimira, lá foi nosso personagem assim vestido, para assistir à missa do domingo. Sapato preto, sola enlameada pelo barro das ruas, resultado da chuva que caíra no dia anterior, e chapéu na mão, porque entrar na igreja com chapéu na cabeça era visto como um grave desrespeito à casa de Deus. Aliás, o chapéu era um assessório que fazia parte do bom vestir e praticamente todo homem trazia-o sobre a cabeça, mas era de bom alvitre tirá-lo sempre ao entrar numa residência ou numa loja ou em uma repartição qualquer.

O terno, azul claro, meio desbotado pelo uso, um pequeno remendo na perna esquerda da calça, os bolsos do paletó com marcas enegrecidas nas bordas e uma gravata carijó amarrada no colarinho encardido da camisa quase branca.

Na igreja, permaneceu em pé, encostado a uma das colunas sustentadora do prédio, já que o salão estava repleto de fiéis. Passado algum tempo, Genor começou a se mexer. Mexe, remexe, sacode pra cá, sacode pra lá, se torce todo. As pessoas que assistiam a cena começaram a se preocupar. Os que estavam mais próximos trataram de se afastar enquanto o Genor se chacoalhava todo. Depois de tantos trejeitos solta o braço direito com toda sua força expulsando da manga de seu paletó, uma pré-histórica barata. O inseto alça vôo e se acomoda no branco véu que cobria a cabeça de uma beata concentrada no jenuflexório logo à frente do padre. A “veia” deu um grito, acordando todo o povo que fingia assistir a missa. O sacristão tenta matar o bicho, o coroinha enrosca o pé e cai derrubando uma vela acesa, pega fogo na tolha do altar, aí a festança foi geral. A missa acabou mais cedo.

Wednesday, November 24, 2010

Monte Mor de Antanho - Causos -16

O Galos: duas histórias.

Segunda

Este galo ganhei de um amigo sitiante. Já era adulto. Belo animal, dono de um porte elegante, exibia-se com muita galhardia. Era extremamente dócil e gostava da companhia humana. Estava sempre cocoricando próximo a alguém.

Por falta de espaço em minha casa, levamos o próprio para nossa chácara. Meu pai, quase todos os dias trabalhava a terra, cultivando algumas plantinhas, tendo sempre ao seu lado o pomposo amigo.

Não tínhamos galinheiro na chácara, por isso, ao entardecer papai prendia com uma cordinha, uma das pernas do galo ao pé de uma mesa que ficava dentro de um rancho onde guardávamos as ferramentas. Isso causava alguns transtornos, pois todos os dias, invariavelmente papai precisava ir até a chácara, distante quatro quilômetros, mesmo que fosse somente para soltar e tratar da ave. Além disso, era preciso limpar toda a sujeira que sobrava sobre o piso do rancho. Isso não era vida, nem para meu pai, nem para o galo.

Dona Maria e seu Antônio eram nossos visinhos. Gente boa. Possuíam muitos galináceos confinados em um cercado ao lado da casa. Certo dia, preocupado com a vida do simpático e querido amigo, pai resolveu falar ao seu vizinho:

-Seu Antônio, será que o senhor poderia abrigar o galo no seu galinheiro? O bichinho sofre toda noite amarrado ao pé da mesa lá dentro do rancho.

-Ô seu chico, pode da cá o emplumado que nóis cuida dele.

-Assim aconteceu, o galo, contra a vontade, foi fazer companhia a outros de sua espécie.

Alguns dias depois, papai foi cuidar de sua horta. Sol a pino, hora da bóia. Antônio chega até a cerca e diz:

-Seu chico chega mais pra cá um pouquinho.

-Que foi seu Antônio?

-Sinhô num armoçô inda?

-Não seu Antônio, tava esquentando a bóia.

-Intão foi bão. O sinhô pode cumê um pedaço do galo. Maria tá cabano de fritá o tar.

Pai não teve coragem.

Monte Mor de Antanho - Causos - 15

Os galos : duas histórias

Primeira

Éramos crianças. Certo dia chuvoso, eu, meu irmão e um primo encontramos um pintinho todo molhado e prá morrer de frio. Morreria mesmo. Cuidamos dele. Aquecido e alimentado, recuperou as forças, cresceu, virou galo. Todos os dias, desde aquele primeiro, nós o enrolávamos em um pano e o colocávamos em uma caixa de sapatos para dormir. Acostumou mal. O tempo passou, virou franguinho, depois frangão e finalmente tornou-se um belo galo, forte, colorido, garboso. Crista carnuda, asas curtas e um invejável par de esporas. Apesar de toda sua pompa, era carinhoso, cheio de dengo e nunca perdeu o vício de dormir enrolado em um pano. Para facilitar arrumamos um saco de estopa com o qual o envolvíamos. A todo entardecer lá vinha o emplumado buscando seu saco de dormir.

Gostava de humanos, deixava seus pares para acompanhar a gente. Morávamos em uma chácara e a galinhada vivia solta pelo quintal. Bastava aparecer alguém e nosso amigo já lhe fazia companhia. Estava sempre procurando carinho e calor humano.

Nessa época meus pais, em todas as manhãs dirigiam-se ao curral para ordenhar algumas vacas. Imagine quem os acompanhava? Foi o grande erro do galo. Certo dia, enquanto meu pai tirava o leite da Calçada, bela vaca holandesa, que produzia mais de dez litros de leite por dia, minha mãe cuidava do bezerro, o galo passeava por entre os animais. Aí aconteceu a tragédia. Uma vaca distraída pisou-lhe o pescoço. Morreu na hora.

Enterramos nosso amiguinho no fundo do quintal, perto da última mangueira, onde jaziam o meu cachorrinho Lulu, que morreu engasgado por uma cabeça de peixe cascudo, duas angolinhas que não vingaram e o tuim que o gato matou. Sobre o túmulo coloquei uma pequena cruz feita com lascas de bambu enfeitada com pequeninas flores silvestres que colhi ali perto, debaixo das goiabeiras.

Monte Mor de Antanho - Causos - 14

O NOME

Luís da Câmara Cascudo em seu livro “Made in África” (Rio de Janeiro 1965) cita Afrânio Peixoto, que colecionou em “Miçangas” (1931) uma série de nomes deveras interessantes, tais como: Lança-Perfume Rodometálico de Andrade, Abrilina Décima Nona Caçapavana Piratininga de Almeida, Azarias Califrouchon Borges Neuplides Panteon, Sindalfo Calafange Catolé da Assunção Santiago, Comigo é Nove da Garrucha Trouxada, Francisco Facada Sargento de Cavalaria. O mesmo livro de Cascudo ainda apresenta Alfredo de Sarmento, em “Sertões d’África”, que registra os nomes dos ministros do rei do Congo em 1965: Calisto Sebastião Castelo Branco Lágrimas da Madalena Ao Pé Da Cruz Do Monte Calvário, Geraldo Zilote Manuel Arrependimento De São Pedro No Côncavo Da Terra, Cristóvão de Aragão dos Vieiras da Feliz Memória, Miguel Tércio Pêlo de Três Altos Para Borzeguins Que Cobrem os Pés Del-Rei Meu Senhor, Rafael Afonso de Ataíde Como Cedro do Monte Líbano.

Pois é, nome é coisa séria, e os exemplos primorosos acima citados certamente causavam problemas aos seus donos, como no caso que agora passamos a discorrer.

Nossa contemplada é dona Valgina. Sempre havia alguém para lhe encher o saco por causa desse nome. Certo dia Val, como gostava de ser chamada, vai a uma entrevista de emprego:

-Seu nome?

-Valgina.

-Como?

-Valgina.

-Curioso. Onde seus pais encontraram esse nome?

-Mistura de seus nomes, Valdemar e Gina.

-Entendi.

-Mas isso não é nada, o pior vem agora, disse Valgina.

-Como assim? - Perguntou a entrevistadora.

-Só para você ter uma idéia, meu pai chama-se Valdemar Pinto Moreno e minha mãe Gina Sacco.

-Credo! Então você é Valgina Sacco Pinto Moreno?

-Nem tanto, na hora meu pai deixou o sacco de lado

Monte Mor de Antanho - Causos - 13

O SUPOSITÓRIO

Certo dia Zurmiro foi ao médico reclamando de dores abdominais. Depois da consulta o doutor lhe indicou, como tratamento, o uso de um medicamento apresentado em forma de supositório. Comprou e usou. Como não se sentiu bem, voltou ao médico e foi logo dizendo:

-Ô seu dotô, esse tar de supro..., supro..., esse negócio que o sinhô mandô eu usá, não tá seno muito bão não.

-Porque seu Zurmiro.?

-Pruquê num sei seu dotô, presque num tá... num tá curano eu.

-O senhor usou direitinho?

-Direitim, jeitim que o sinhô mandô.

-O senhor está com o remédio aí?

-Taqui o bichinho.

O médico tomou nas mãos o supositório e disse:

-Vamos ver como o senhor está usando.

-Ô seu dotô, num fica muito bão eu colocá esse tróço qui na frente do sinhô.

-Não seu Zurmiro., o senhor não vai colocar aqui, quero apenas saber como o senhor está usando.

-Ah bão, intendi. Eu pego o tarzinho aí ... até da vergonha de falá dotô, mai, mai eu infio lá, né dotô.

-Mas o senhor coloca assim como ele está?

-Sim mermo dotô, dessejentim. E oi dotô, essa azinha de lado doi pá burro. O sinhô num magina!

Então já sei o que está acontecendo seu Zurmiro, se o senhor não tirar o supositório dessa embalagem plástica não vai dar certo mesmo, e vai doer.

Monte Mor de Antanho - Causos - 12

O VELORIO

João do grupo era mais conhecido do que notícia ruim. Nem seria necessário dizer o porquê, trabalhava no único grupo escolar da cidade. Embora não fosse de muito falar, era cidadão honesto, amigo de todo mundo e amante de uma boa pescaria.

Certo domingo, logo de manhã, bateram à porta de sua casa. Era compadre Carlito, que ao vê-lo, foi dizendo:

-Ué compadre, mecê não morreu?

-Acho que não cumpadre, a num sê que foi agorinha mermo e eu ainda não dei conta do acontecido.

Carlito continuou:

-Comadre nhana do Zeca foi cedinho avisá lá em casa que mecê tinha partido dessa para melhor. Eu inté vinha pensando no caminho que ia vê mecê sozinho, deitadinho no caxão! Matutei muito cumé que comadre Maria, muié inda nova, ia se virá pá arresorvê seus pobremas sem o cumpadre! Mai num faiz mar, fica pra outra veiz. Inté cumpadre.

-Inté, - respondeu João.

Alguns minutos depois chega o Chicão. Ao ver João vai logo dizendo:

-Mecê ta vivo?

Ao que João respondeu:

-Pois é Chicão resorvi num morrê hoje, fiquei com medo e deixei potro dia.

-Foi bão assim cumpadre. Até vinha cismando no caminho que se mecê tivesse morrido quem ia sê meu cumpanheiro de pescaria no poção do Batata? Inda mais agora que tá dano muito lambari lá na curva do poço.

-Num foi dessa veis, disse João.

-Intão, já que mecê não bateu as botas, tô indo imbora Já tá quase na hora do armoço.. Estimo melhora pô cumpadre.

Passados uns quinze minutos, alguém grita lá fora:

-Nhá Maria!

Maria abre a porta e Joaquina do Antenor, conhecida como Quina, com as duas mãos ocupadas e os olhos marejados de lágrimas aproxima-se dizendo:

-Dá um abraço Maria, pruquê to cas mão ocupada. Fazê o quê, pá morrê basta ta vivo.

-Entre nha Quina, disse Maria.

A sala estava arrumada como de costume. Então Quina disse:

-Ué, onde tá o caxão?

João, lá da cozinha responde:

-Num chegô inda nhá Quina. Sente pá esperá.

Quina amarelou-se toda, engoliu seco e falou:

-Maria de Deus, o que tá acontecendo?

-Que eu sei num ta’contecendo nada, nóis é que tamo sustado co’esse negócio de que João morreu.

-Mai tá o maior zum-zum de que ele morreu de morte morrida. De verdade mermo! Inté já marcaram a hora do interro! Aí fiquei matutano que a casa tava cheia de gente e mecê muito’cupada rodeano o caxão e intão nem fiz armoço pá podê fazê uns bolinho de chuva e esse bule de café pá mecê servi no velório.

-Num sei de onde o pessoar inventou isso nha Quina. João andô de buxo virado e inté insaiou, mai por’inquanto num morreu.

-Maria do céu, que qué isso? Mai foi mió assim, num é mermo Maria?

-É Quina, num quero nem pensá.

-Bão, já que João ta pronto p’otra tô indo imbora. Vô levá o café e os bolinho pa criançada, pruquê eles queria cumê e eu falei: - jeito nenhum! Isso é pô velório de João da cumadre Maria.

-Inté cumadre.

Minutos depois, uma cartolina pregado na porta:

“Num morri hoje, deixei potro dia”.

Assinado: João

Thursday, October 07, 2010

Monte Mor de Antanho - Causos - 11

Suspensórios – a prova do crime

Cidade pacata do interior, a televisão ainda não chegara e os únicos divertimentos eram os passeios pela praça aos finais de semana e, vez ou outra, uma sessão de cinema. Agora, o que fazia a cidade desassossegar, era o anúncio de chegada de um circo. O disque-disque andava mais que notícia ruim. A criançada, então, não largava as saias das mães, ou torrava a paciência dos pais com as famosas perguntas:

-Mãe, "ocê" me leva no circo? Eu quero vê o “paiaço”.

-Pai, o Tião “falô” que tem um montão de bicho. Macaco, leão, girafa e até cachorro que fala.

-Sai pra lá criança, onde já se viu cachorro “falá”?

E a conversa ia por aí afora.

Deixando as crianças de lado, os adultos já nem trocavam bom-dia ou boa-tarde. O que se ouvia era:

-E o circo, será que vem “mermo”?

-Tão “falano” que a estréia é sexta-feira.

-“Disque” tem elefante, gorila e um “casar” de leão que veio da África. Nem sei onde fica essa “tar” de África, “mai disque” é verdade.

-Eu já vi retrato de leão no “arbo” de figurinha do meu “fio”. Quero ir nesse circo pra “vê” o bicho de verdade.

-O “nhô” Zeca Sabino disse que assistiu esse circo lá em Rebouças e que o “tar é bão mermo”. “Vamo esperá pra vê”.

Enfim, o circo estava para chegar, e havia coisa melhor?

Bem, esta história não tem nada a ver com circo, apesar de que o mesmo vai ter uma participação, embora pequena, mas importante, no resultado final. Tudo começou com o Juca, moço bom, honesto, trabalhador e solteiro.

Era lá pelos anos quarenta e o moçoilo chega aos dezoito anos. A vontade de mulher há muito lhe arrebitava as calças. Mulher era raridade, dinheiro mais ainda e o prostíbulo era um conto de fadas. O negócio era se virar com as éguas. Era de graça, não apresentava perigo, a não ser que o dono do animal aparecesse na melhor hora.

Juca não podia ver uma fêmea de quatro pernas para já imaginar um barranco. Botava nomes próprios nas suas preferidas. Diziam que algumas até lhe conheciam.

Pois é, essa era a saída para se livrar daquele desassossego que aperta o peito, sobe e desce pelo espinhaço e deixa a gente numa danação sem dó. Mas, para se arrumar com as bichanas era preciso um companheiro. É muito difícil realizar o evento sem a participação de um amigo, a não ser que o lugar seja muito apropriado e tenha onde amarrar a escolhida, e ainda é importante que a coisa fique de frente ao barranco, porque barranco é fundamental, sem ele nada feito. O que pode resolver, na falta do barranco, é um cupinzeiro, alguns encaixam na altura. Agora, como nem sempre é possível uma estaca para prender a gostosa, o companheiro de Juca era o Landão, que primeiro segurava o cabresto. Depois era o Juca que segurava a corda, afinal quem consegue assistir uma coisa assim sem ficar doidão da vida?

Deixando todas essas dificuldades de lado, Juca sempre dava um jeito para se livrar daqueles arrebites da calça.

Num domingo qualquer Juca amanheceu daquele jeito, numa danação que dava pena. Quando a tarde chegou, toda preguiçosa, o moço, desalentado vai lá pelos lados do rio Capivari. Passava perto da ponte seca quando viu uma burrica nova que ainda não fora sua, e ajeitada. Não deu outra. Estava com sorte, a burra era mansa, aceitou os afagos e lá foram pra debaixo da ponte. E para completar ela era baixinha e uma pedra encaixou direitinho. Juca tirou os suspensórios, passou no pescoço da burra e amarrou a tal no moirão da ponte. Beleza.

Tudo nos conformes,”mandou brasa”. Mas como muita sorte dá para desconfiar, naquela horinha boa, passava por cima da ponte os carros daquele circo, lá do começo da história, e para o azar do Juca foi justamente o carro puxando a jaula do leão que se atreve a cruzar a ponte no momento crucial. O leão, como não podia deixar de ser, sentiu o cheiro de carne fresca, da burrica é claro, e solta um tremendo rugido.

A burrica assustou-se, deu uns pinotes, saiu correndo e levou os suspensórios do moço deixando-o ao sabor das mãos. Dia seguinte o proprietário da burra - não se sabe como descobriu o enredo da coisa - vai ao serviço do Juca devolver os suspensórios. Pra quê? Aí todo mundo perguntava ao noivo quando seria o casamento, afinal ele tinha deflorado a burrica que, segundo seu dono, ainda era virgem.

Tuesday, October 05, 2010

Monte Mor de Antanho - Causos - 10

A PAINEIRA

De indescritível beleza, aquela paineira foi um dos meus grandes amores de infância. Seu tronco era de um enorme diâmetro. Baixo, não atingia três metros de altura quando nasciam os grandiosos galhos serpenteando pelos ares e formando uma enorme copa que cobria largo espaço. Um deles destacava-se pela sua magnitude. Nasceu inclinado para a terra como a agradecer a maternidade para depois, generosamente, dar glórias aos céus. Quando florida, era uma enorme e colorida taça coberta por magníficas e suaves pétalas avermelhadas a oferecer seu doce néctar às infindáveis espécies de insetos enquanto muitas centenas de multicores e irrequietos colibris, carinhosamente, em amorosos beijos, sugavam suas delícias. Era uma enorme orquestra de sons e cores premiando a natureza com o brilho de uma melodiosa e primaveril sinfonia.

Finda a estação das flores o gigante ramalhete transformava-se num conjunto de centenas de pingentes verdejantes, cobrindo toda a copa, produto dos amores da primavera. Carinhosamente, como uma mãe que aninha em seu colo suas crias, a fantástica árvore alimentava seus frutos para que crescessem belos e formosos enquanto, ora a brisa, ora o forte vento cantavam deliciosas canções de ninar.

Quando as primeiras folhas começavam a receber o tom amarelado do outono, ela se cobria de branco como uma noiva apaixonada a espera do seu amado para lhe aquecer com o calor dos flocos de algodão que brotavam de seus frutos.

Adormecia durante o inverno, mesmo assim continuava a dar abrigo a inúmeras aves que ali pousavam ou se preparavam para construir seus ninhos.

Um dia o senhor progresso chegou trazendo seu machado. Findou-se a sinfonia. O mundo ficou mais triste. Chorei.

Monte Mor de Antanho - Causos - 09

DISTRAÇÃO

Foi para Campinas em seu fusca ano 62. Seu costume era viajar de ônibus, mas resolveu estrear o carro semi- novo. Escolheu uma rua de pouco movimento para deixar o carrão, pois em matéria de estacionamento era um desastre. O espaço deveria servir para, pelo menos, mais três fuscas.

Andou pela rua Treze de Maio, visitou várias lojas, olhou as vitrines, comprou um sapato, comeu um lanche, subiu a dita rua até a estação dos ônibus, comprou passagem, embarcou.

Quando aqui chegou, falo de Monte Mor, lembrou-se do carro. Não sabia se ria ou chorava. Foi rapidamente para casa, contou o ocorrido, trocou o sapato que apertava o pé, tirou o casaco, deu uma mijada e voltou ao ponto de ônibus.

A espera e a viagem duraram um século, mas enfim o carro permanecia lá.

Ufa!

Meteu a mão no bolso, cadê a chave? Ficou no casaco que deixou em casa. Puta que o pariu, isso já é demais. Repete a dose.

Conclusão, o que começou às sete, terminou às dezessete.

Monte Mor de Antanho - Causos - 08

DISCUSSÃO

Aconteceu logo no início da antiga rua Francisco Glicério, hoje Siqueira Campos, no sentido de quem vem do cemitério.

Elas não se davam muito bem, mas naquele dia a batalha verbal foi homérica. De um lado Alfonsina, mulher de ombros largos afinando para baixo, bunda caída e pés enormes, número quarenta e dois pra mais que menos. Do outro lado Lulu, nariz fino, rosto chupado, barriga saliente e bobs na cabeça. Mais falada que praga ruim.

A gritaria corria solta enquanto Alfredão, marido de Lulu, assistia de camarote sem dar um pio. De repente Alfonsina despeja com todas as letras o já famoso comportamento de Lulu:

-Você dá pra todo mundo, sua vaca!

Essa foi demais, Alfredão sai de sua trincheira, saca sua espada verbosa e ataca:

Fique sabendo sua enxerida que a xoxota é de Luluzinha e ela dá pra quem quiser. Você não tem nada com isso, sua bunda seca!

Monte Mor de Antanho - Causos - 07

PAIXÃO

Certo domingo, após a missa, Afrânio comprou um exemplar de “O Cruzeiro”, na praça, em frente a igreja onde o Peta espalhava e vendia suas revistas. A cidade ainda não contava com uma banca ou revistaria, e dependia do caixeiro viajante que sempre depois da missa dominical estava de prontidão com sua coleção dos últimos números das mais populares revistas que circulavam naqueles anos dos meados do século passado. “O Cruzeiro, “Manchete”, “Grande Hotel”, “Sedução”, entre outras.

Aquele exemplar, comprado pelo Afrânio, trazia como destaque o concurso para miss São Paulo 1952, acontecido na semana que findava. Na capa a linda foto da escolhida. Bela mulher.

Não deu outra, Afrânio apaixonou-se perdidamente pelo mulherão.

Todos os dias abria a revista na página onde aparecia aquele monumento que lhe enchia os olhos e lhe arrebitava as calças. Que mulherão! Isso sim é que é mulher, nunca tinha visto um tesouro como aquele.

Dias depois resolveu que tinha que comer aquela gostosa. Em sua cabeça não passava mais nada além daquele louco desejo. Sonhava com a deusa e até calo já surgia na mão. Comê-la seria o único caminho para se livrar daquele tormento. Não deu outra, comeu mesmo, e com manteiga. Lá se foi a folha da revista.